ABRE ASPAS Por Ana Clarissa – A ascensão e consolidação de novas forças políticas
As eleições em Manaus chegaram ao fim em 2024, mas um olhar sobre o histórico recente revela como a dinâmica eleitoral na capital amazonense evoluiu. Em 2020, o cenário era marcado pela primeira onda da pandemia e pela disputa acirrada entre Amazonino Mendes, então candidato pelo PODE, e David Almeida, do AVANTE.
No primeiro turno, Amazonino obteve 234.088 votos (24,31%), enquanto Almeida recebeu 218.929 votos (22,74%), seguido de Zé Ricardo, do PT, com 139.846 votos (14,52%). Já no segundo turno, Almeida conseguiu virar o jogo, conquistando 466.970 votos (51,27%) contra 443.747 de Amazonino (48,73%), em uma vitória apertada de 23.223 votos.
Em meio a um contexto de abstenção elevada, foram registrados 43.232 votos brancos (4,19%), 78.952 nulos (7,64%) e 298.712 abstenções (22,43%). Esses números refletem o desinteresse de parte do eleitorado, atribuído tanto à crise de saúde pública quanto à falta de confiança em algumas candidaturas.
Cenário Atual: Surpresas e disputas intensificadas
Quatro anos depois, a corrida de 2024 também trouxe reviravoltas. As pesquisas iniciais apontavam uma disputa direta entre David Almeida e Roberto Cidade, mas a polarização final foi entre Almeida e Capitão Alberto Neto. No primeiro turno, Almeida liderou com 354.596 votos (32,16%), enquanto Alberto Neto obteve 275.063 (24,94%). Com 1.102.733 votos válidos, a capital registrou 35.066 votos nulos (3,01%) e 28.187 brancos (2,42%), além de uma participação de 1.165.986 eleitores (80,63%), com abstenção de 280.136 (19,37%).
A chapa “Ordem e Progresso”, composta pelo Deputado Federal Capitão Alberto Neto e pela empresária Maria do Carmo Seffair, rapidamente se consolidou como uma força política. No entanto, ao desafiar o status quo, a chapa foi alvo de críticas e desinformações. Um dos pontos de ataque à candidatura foi a alegação de que o Capitão Alberto Neto seria uma ameaça à Zona Franca de Manaus, uma narrativa intensificada pelo prefeito reeleito David Almeida.
No entanto, esse argumento parece destoar dos recentes avanços legislativos em torno da Zona Franca. Em outubro de 2014, o Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional 83, que estende os benefícios tributários da Zona Franca por mais 50 anos, até 2073. Sem essa emenda, o prazo de vigência terminaria em 2023.
O projeto, de autoria do Executivo, foi aprovado pela Câmara em junho e pelo Senado em julho, garantindo uma segurança econômica de longo prazo para a região. A crítica contra Alberto Neto nesse ponto se torna ainda mais questionável, especialmente considerando que o único deputado federal do Amazonas a votar contra a Zona Franca em uma reforma tributária foi Silas Câmara, um aliado de Almeida.
Críticas à gestão e polêmicas na campanha
Durante a campanha, questões como a má gestão no combate à pandemia e supostos acordos políticos geraram descontentamento. Em 2021, o Amazonas registrou mais mortes por COVID-19 nos primeiros 54 dias do ano do que em todo 2020, e a gestão municipal foi criticada pela falta de iniciativas adequadas. Em meio à campanha, um contrato de R$ 3 milhões entre David Almeida e o deputado federal Silas Câmara levantou suspeitas de interesses questionáveis. A situação se agravou quando Câmara foi o único deputado amazonense a apoiar uma reforma tributária que excluiu pontos essenciais para a Zona Franca de Manaus.
No segundo turno, a chapa “Ordem e Progresso” enfrentou uma série de ataques direcionados, principalmente à figura de Maria do Carmo Seffair. A empresária, reconhecida por seu histórico de trabalho e integridade, foi alvo de influenciadores e jornalistas que questionaram sua permanência na política, enquanto acusava-se de desvalorização e ausência de sororidade entre algumas críticas feitas por outras mulheres públicas.
Acusações de corrupção e compra de votos
A campanha de 2024 foi também marcada por acusações de compra de votos e manipulação. Em uma operação recente, agentes da Polícia Federal se disfarçaram de pastores para flagrar dois líderes religiosos em um evento acusado de compra de votos. Além disso, surgiram alegações de que influenciadores digitais estavam recebendo até R$ 100 mil para promover a gestão de Almeida, alimentando a narrativa de que as práticas questionáveis estão sendo normalizadas.
Números e perspectivas para o futuro
No resultado final, David Almeida foi reeleito prefeito com 576.171 votos (54,59%), enquanto Capitão Alberto Neto, obteve 479.297 votos (45,41%).
Apesar da derrota, a chapa de Alberto Neto e Maria do Carmo sai fortalecida: o engajamento público da candidata Maria do Carmo nas redes sociais saltou de 10 mil para 42.200 seguidores, evidenciando o interesse crescente do eleitorado em novas lideranças. O comparecimento às urnas foi de 1.107.870 eleitores (76,61%), com uma abstenção de 338.252 (23,39%).
Esses resultados mostram que a chapa “Ordem e Progresso” conquistou um espaço significativo no cenário político manauara, impulsionada pela insatisfação com a política tradicional e pelo desejo de renovação. Em meio a uma disputa acirrada e marcada por controvérsias, a chapa de Capitão Alberto Neto e Maria do Carmo deixa uma mensagem clara: a de que há uma nova força política disposta a desafiar as práticas estabelecidas e promover uma mudança no Amazonas.
NOTA DA REDAÇÃO:
Os artigos contidos nesse novo espaço não refletem necessariamente à opinião da FOLHA DE PARINTINS.