Curta amazonense é selecionado para Mostra de Cinema Negro de Sergipe
Dirigido pela multiartista Keila Serruya Sankofa e Sindri Mendes, “Seo Geraldo-Homem de Planta e Terra” foi selecionado para a 6ª edição EGBÉ
O filme amazonense “Seo Geraldo-Homem de Planta e Terra” foi selecionado para a 6ª edição EGBÉ – Mostra de Cinema Negro de Sergipe 2021. Dirigido pela multiartista Keila Serruya Sankofa em parceria com o diretor paraense Sindri Mendes, o curta relata a vida de seu Geraldo, um dos moradores mais antigos de sua comunidade, e memória viva de uma Bahia profunda que resiste e sustenta seus mistérios.
Em 2021, a EGBÉ – Mostra de Cinema Negro de Sergipe recebeu produções vindas de todas as partes do país, um olhar negro sobre as narrativas cinematográficas. Os trabalhos selecionados serão exibidos de 10 à 16 de abril, e traz narrativas sobre o resgate de memórias afetivas, que têm ganhado cada vez mais espaço, pois, além da reconstrução de uma memória histórica, cineastas negros buscam recompor esse lugar simbólico que tanto humaniza os recortes da vida afetiva, compostos, muitas vezes, pelas experiências da infância.
O evento ocorre de maneira remota (@mostradecinemanegrosergipe) , através de lives, oficinas de roteiro, produção de filmes, e uma grande aula com o tema “Memória encruzilhada” com Safira Moreira, além da 6ª Mostra de Cinema Negro de Sergipe, e a Mostra Africana “Memórias em trânsito, infâncias e afetos em África”.
Segundo Sankofa, através de relatos da vida de Seo Geraldo, foi descoberto porque a música, reza, e conhecimento ancestral sobre as plantas, não se separam, e assim, reafirmam o sagrado como fenômeno cotidiano e território da alegria.
“Esse documentário registrou um encontro precioso que tive com o Sr Geraldo, ele é músico, rezador e compositor. Uma pessoa cheia de axé. Fico muito feliz por mais esse espaço de exibição, filmes são feitos para serem vistos. E esse do seu Geraldo é uma obra de encher o olho de alegria”, diz Keila Serruya Sankofa.
Gravado na Bahia, na casa de barro do seu Geraldo, localizada no centro da paradisíaca ilha de Boipeba, onde não circulam carros, a vida de seu Geraldo, traz a memória pulsante de seus ancestrais, desde o aprendizado com as plantas, à sua trajetória com a música.
Sobre a mostra – Desde a sua primeira edição, a Mostra busca abrir janelas para o cinema negro, levando essas narrativas, também, para o interior do estado de Sergipe, reforçando a autoestima preta das populações aonde o cinema sequer chega. A Egbé se tornou um espaço de aquilombamento, um espaço para conhecermos o que os cineastas têm criado, as histórias que têm contado, e como essas narrativas ajudam a entender o lugar que ocupamos hoje.
Para 2021, a Mostra de Cinema Negro de Sergipe – EGBÉ escolheu como tema a celebração da memória afetiva, porém este é um desafio num país que teve, em 2019, ao menos 4.971 crianças e adolescentes mortos de forma violenta. É o que mostra o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O número representa 10% do total de mortes violentas do ano passado, em 2020 (47.773).
Com números aterrorizantes como esses, como então celebrar o lugar dessa infância que virou alvo na rotina brasileira? Como dirimir tal fruto do racismo que faz de nossas crianças negras escolha de “balas perdidas”? A EGBÉ acredita no cinema como forma de transformação social e por isso busca narrativas que desloquem o alvo, mudando a direção do olhar social, às vezes comovido e apático, às vezes cego para a violência real a que nossas crianças negras são expostas.
Imagens: Keila Serruya Sankofa e Maria Serruya