Entrevista: Márcia Siqueira, a Rosa Vermelha do Boi Garantido
Por Chris Reis
chrisreis05@gmail.com
A ‘Rosa Vermelha’ do Boi-Bumbá Garantido, Márcia Siqueira, é quase um item do bumbá encarnado. Se não conta pontos, sem a presença dela, a arena “esvazia”. Presente no Bumbódromo há muitos anos, fazendo participação especial em toadas ou executando backing vocal com maestria, Márcia é dona de uma voz inconfundível. Seu timbre é considerado um dos mais belos do Amazonas.
A artista tornou-se a primeira levantadora de toadas do Festival Folclórico de Parintins a assinar contrato. Em entrevista à Folha de Parintins, falou sobre o significado deste momento; situações inusitadas; espaço aberto num mundo masculino e, claro, sua paixão pelo ‘Boi da Baixa do São José’.
Folha de Parintins: Márcia, quando tempo de carreira?
Márcia Siqueira: 34 anos.
FP: Quando descobriu que tinha essa voz?
MS: Comecei a cantar aos quatro anos, por incentivo da mamãe.
FP: Além de toadas, você canta diversos estilos, tem predileção por algum ritmo?
MS: Canto o que me é agradável, o que me faz feliz.
FP: E essa história com o Garantido. Quando e onde começou?
MS: Conheci o Sidney Rezende em 1997 e, por meio dele, não só conheci o Garantido, como também tive a oportunidade de entrar em estúdio e gravar o backing vocal em 1998.
FP: Você é uma das poucas artistas que não mudou de cor e nem canta toadas do contrário.
MS: Eu canto alguns clássicos do contrário sim rsrs… Não pode faltar né? Mas, admito que meu repertório de toadas é 80% encarnado rsrsrs…
FP: Por que essa atitude?
MS: É natural.
FP: Já teve convites do azul?
MS: Sim! Fui sondada para substituir a Enna no ‘Canto da Iara’, houve um desencontro e não deu certo. Gravei uma participação no contrário em ‘Remos e Tauás’, por insistência do saudoso Arlindo Jr e produção. Fizeram até uma aposta e proposta para que eu fosse para a arena, mas não fui né? rsrsrs… ele (Arlindo) se chateou.
FP: Quando foi a primeira vez que entrou na arena? Conta como foi? O que sentiu??
MS: Foi em 1998 e foi surreal. Chorei!
FP: Com tanto tempo no festival, deve ter inúmeras histórias para contar.
MS: Abafa…
FP: Teve algum momento que a Márcia “engasgou” emocionada no bumbódromo?
MS: Quando cantei ‘Romaria’.
FP: E momentos engraçados. Devem ter muitos. Conta pra gente.
MS: Então, em 2010 foi minha estreia na arena fazendo solo. Acordei cedo, coloquei um vestido florido, pois tinha várias entrevistas, apresentação para os jurados, passagem de som, enfim, aquela correria pré festival. Fiquei na concentração, pois seriamos os primeiros a entrar. Eu toda animada, todos se arrumando e eu esperando o figurino. O tempo começou a ficar curto e nada da roupa, ninguém sabia, comecei a me desesperar e vi que não tinha condições de me apresentar. Sai chorando da concentração, quando o Armando do Valle me puxou pelo braço, pegou um capacete de tribo e disse que eu tinha que entrar de qualquer forma! Lá fui com meu vestido florido que passei o dia inteiro e a cara amassada de tanto chorar! Foi trágica e cômica a minha estreia.
FP: De onde surgiu o nome “Rosa Vermelha”?
MS: Fui batizada por uma turma de torcedores encarnados, encabeçada pelo meu querido Gilson Lira.
FP: Como a Márcia Siqueira, artista e com uma bagagem ampla de apresentações com o Garantido, vê esse momento no bumbá ao ser a primeira mulher a assinar um contrato como levantadora de toadas no Festival?
MS: Uma vitória para todas as mulheres que levantam a bandeira da toada! Lucilene Castro, Lili Andrade, Enna Carvalho, Cristiane Garcia, as verdadeiras desbravadoras nesse universo masculino.
FP: Qual o significado disso?
MS: Um legado.
FP: Como é ser uma artista mulher no mundo do boi-bumbá?
MS: Apesar de todas as conquistas, ainda tem gente que coloca a prova a nossa capacidade. Por exemplo: cantar rituais, segurar uma apresentação. Quem sabe agora isso seja possível, pois há a possibilidade do contrário ter uma mulher na linha de frente.
FP: Ser uma das unanimidades do Festival Folclórico de Parintins, traz benefícios?
MS: Acho que não existe alguém que seja unanimidade. mas, estou muito feliz em ter o carinho e o respeito das duas nações.
FP: O que significa o Garantido para você?
MS: Amor e paixão! Se antes já era imagine agora, assumida! hehehehe
Fotos: Rubens Alves.