Garimpeiros ilegais ameaçam ribeirinhos e o transporte de cargas no rio Madeira
Agressões e ameaças armadas diárias, além do risco de perderem suas próprias casas, passaram a fazer parte do cotidiano dos moradores da comunidade Santa Rosa, localizada a 400 quilômetros da sede do município de Manicoré, no interior do Amazonas, desde julho deste ano, quando cerca de 800 balsas de garimpo ilegal se instalaram na região para dragar o rio em busca de ouro.
De acordo com um dos moradores, que pediu para não ser identificado por temer represálias, garimpeiros armados provocam e atacam todos os dias as 20 famílias da comunidade, atracando suas embarcações na margem para retirar o material do rio.
“Já falamos com eles pedindo para não chegarem tão perto da ‘beira’ e em resposta mandaram pessoas armadas e violentas para dizer que não irão sair. Denunciamos nos órgãos públicos e os garimpeiros reduziram por um tempo, mas desde a metade do ano, com o início da seca, eles voltaram com tudo e hoje já são 800 balsas neste trecho do rio”, disse o morador que trabalha na agricultura familiar.
Além da ameaça ao meio ambiente e da redução da pesca na região (principal fonte de proteína da população local), os moradores também notaram que desde a chegada do garimpo ilegal, os barrancos onde estão suas casas começaram a ceder com maior intensidade e frequência.
“Parte de algumas construções já foram para o fundo do rio e as nossas casas estão ameaçadas de afundarem também se nada for feito. Vivemos em uma área isolada da floresta, não temos para onde ir e nem a ajuda de ninguém contra toda essa gente armada que está garimpando dia e noite”, alertou.
Bloqueio
A ação ilegal dos garimpeiros no rio Madeira também é uma ameaça constante para o transporte de cargas na região.
De acordo com o Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma), na última sexta-feira (23), uma embarcação que transportava grãos próximo da comunidade Bom Intento – quatro quilômetros rio abaixo da Santa Rosa, em Manicoré – foi proibida de passar pelos garimpeiros que fecharam toda a extensão do rio com suas balsas.
“Eles bloquearam tudo e a tripulação teve que ‘negociar’ para deixarem o caminho livre. A transportadora fez a denúncia na Capitania dos Portos e aguarda o retorno das apurações sobre mais este incidente envolvendo o transporte de cargas e os garimpeiros ilegais”, destacou o vice-presidente do Sindarma, Madson Nóbrega.
Nóbrega acrescenta ainda, que a ação das balsas acontece com maior incidência no rio Madeira e nesta época de vazante.
“A navegação naturalmente já fica prejudicada com a descida das águas porque apenas em canais nos rios pode ser feita com segurança para evitar bancos de areia, por exemplo. Quando balsas estão obstruindo estes caminhos, a situação fica mais complicada, o tempo de viagem aumenta e pode afetar o abastecimento de produtos no interior do estado”, advertiu Nóbrega.