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Graffite sobre as águas: Artistas criam mural em palafitas apoiados em canoas

Intervenção artística foi realizada na casa dos professores da comunidade de Várzea, Ilha das Guaribas, localizada às margens do rio Amazonas

 

Parintins (AM) – Na Amazônia profunda o desafio dos grafiteiros não está em subir grandes prédios e escalar paredes para deixar sua marca em um mural de aço e concreto, mas em manter a concentração dentro de canoas, evitar movimentos bruscos e firmar as cores alegres do graffite em palafitas no meio da floresta. Qualquer movimento errado pode lançar no rio artistas, tintas e spray.

Na última etapa do Projeto Arte Ribeira, aprovado por pela Lei Aldir Blanc, que consiste em levar as intervenções artísticas para três comunidades rurais, os artistas Kermerson Freitas e Alziney Pereira mergulharam na vida das pessoas que moram sob as águas. Durante dois dias (22 e 23 de abril) transformaram a casa dos professores em obra de arte e também vivenciaram as dificuldades do dia-a-dia dos interioranos que dependem do rio para tudo na comunidade Ilha das Guaribas, no Rio Amazonas.

De acordo com Kemerson, a pintura desta última etapa do projeto, que passou pelas comunidades de Vila Amazônia e Bom Socorro do Zé Açú, trata sobre a questão da relação que os comunitários tem com os espaço em que vivem, principalmente com a água. “Eles tem uma relação profunda com os rios, por ser uma comunidade de várzea, casas de palafitas, seu único meio de se locomover entre as residências quando está em tempo de cheia é através da canoa. Além disso, a força e liderança da mulher na comunidade é grande e que nesse sentido foi também uma referência que foi representada nas figuras, na pintura”, explica o artista.

Alziney ressalta que assim como pintar em grandes prédios tem seus desafios e perigos, pintar também em canoa apresenta seus desafios. “O rio está sempre em movimento e a canoa acompanha este movimento, e precisamos ficar estável pra conseguir pintar. Então, ficar equilibrado numa canoa é muito difícil principalmente para pintar”, diz.

 

A professora Perpétua Nogueira leciona na escola da comunidade e foi quem recebeu a equipe “Curumiz”, codinome usado pelos graffiteiros, na localidade. Para ela, o local se tornará uma referência e modelo para as atividades práticas. “É um projeto de extrema importância, principalmente, para o ensino de arte, pois os alunos aqui não tinham o privilégio de acompanhar esse trabalho e hoje puderam até encostrar suas canoas próximas e ver a atividade sendo realizada”, destacou.

Luiz Maia de Souza é o presidente da Ilha das Guaribas e entende a intervenção dos Curumiz como um importante legado para a região. “Esse trabalho vai deixar os alunos mais motivados. Ninguém acreditou que eles (Curumiz) vinham fazer esse trabalho, mas quando viram o início da pintura está todo mundo vindo pra cá”, salientou.

A gestora da escola, Zaiana Farias Sicsu, assegura que a comunidade é muito privilegiada ao ser beneficada com o projeto. Para ela, as ações darão maior visibilidade para a escola e a comunidade Ilha das Guaribas. “Nós estamos muito agradecidos pela presença do projeto de terem enxergado que aqui no meio da floresta, no meio das águas, tem uma escola e trazer esse projeto pra nossa comunidade faz com que a gente se sinta reconhecido, merecido de ter alcançado essa graça”, festejou.

 

Documentário – A outra etapa do projeto Arte Ribeira é a produção de um documentário que entra em edição a partir da próxima semana. Além do trabalho dos artistas, o documentário também pretende mostrar um pouco da vida dos moradores das comunidades de Vila Amazônia, Bom Socorro do Zé Açú e Ilha das Guaribas. As maiores dificuldades encontradas ao longo do desenvolvimento do projeto foram na comunidade de várzea, onde as famílias não têm acesso a serviços básicos como, por exemplo, energia elétrica.

O trabalho de quem educa se torna desafiador. “O primeiro impacto, quando a gente chega numa comunidade ribeirinha de Várzea, é uma coisa que você pensa em desistir. Mas, quando você vê a alegria dos alunos e a dificuldade que eles passam pra chegar na escola, no tempo da seca, então, isso nos motiva. Eu faço isso com amor. Eu estou aqui porque eu preciso sim, mas porque eu amo o que eu faço. Apesar de toda a dificuldade, é gratificante, porque vale a pena o nosso esforço. Vale a pena aquilo que nós estudamos, que nós aprendemos. Na prática, estou aprendendo realmente o que é ser uma professora”, finalizou emocionada a docente.

Fotos: Felipe Pessoa e Victor Nascimento

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