Grafiticidade: arte e periferia em Parintins
A ideia era capacitar crianças e adolescentes na periferia e construir, junto com ele/as, um mural no local em que habitam e por onde passam por todos os dias.
Nos últimos anos temos visto o debate sobre as artes se pluralizar, com a valorização de outras/novas modalidades de intervenção que vão muito além dos lugares já consagrados das artes, como os liceus, galerias e museus.
Na Amazônia esse movimento é ainda mais importante, porque fora das capitais, esses espaços quase nunca existem, o que é um limitador da circulação de tudo aquilo que se produz nas artes visuais e em outros campos. Por isso, usar a cidade (suas ruas e muros) como um espaço possível para fazer arte e as periferias como inspiração é ainda um desafio, que pressupõe também romper os estigmas em torno do grafite.
Em Parintins, que já há alguns anos tem recebido diferentes intervenções nos muros isso pode não parecer novidade. Mas há um detalhe importante e que não pode mais passar despercebido: normalmente as pinturas murais ocupam as áreas mais centrais da cidade, de grande circulação. Mesmo quando as referências desse tipo de arte vêm da periferia, são o centro histórico e o centro comercial que se beneficiam dessas artes!
Uma forma de reverter esse quadro é levando a arte urbana para a periferia. E foi isso que Dennis Amoedo propôs no projeto Grafiticidade. A ideia era capacitar crianças e adolescentes na periferia e construir, junto com ele/as, um mural no local em que habitam e por onde passam por todos os dias. Como destaca o jovem artista parintinense: “não foi possível fazer na Estação Cidadania, que ficou boa parte do ano fechada com tapumes, mas deu pra gente fazer na escola Luz do Saber, que fica no bairro Itaúna II”.
O projeto também contemplou palestras e rodas de conversas. Conforme o professor da UEA, Diego Omar, um dos integrantes da equipe, “isso é importante, para mobilizar a comunidade, pois do contrário essa arte também não faz muito sentido, não gera vínculos mais afetivos com aqueles que passam a conviver com ela cotidianamente”.
Outra preocupação foi “envolver as meninas; uma preocupação que já é antiga e que vem de projetos anteriores, quando a gente começou a pensar sobre o pequeno número de mulheres na cena das artes visuais em Parintins e sobre as formas de mudar essa realidade”, destaca Dennis Amoedo.
O mural realizado com recursos do edital da Lei Paulo Gustavo do Governo do Estado do Amazonas pode ser conferido na Escola Luz do Saber (Rua Padre Francisco Lupinno, 4197, bairro Itaúna II) em Parintins. Vale a pena conferir.
FOTO: Eduardo Mello