OPINIÃO: o Carnaval de Manaus foi de arrasta? Por Ana Clarissa
O Carnaval de Manaus realmente não é mais o mesmo dos anos 90, mas isso não significa que está definhando – ele apenas enfrenta desafios de um novo tempo. Comparar épocas tão diferentes sem levar em conta as mudanças sociais, culturais e urbanísticas da cidade é um erro.
Manaus cresceu, e cresceu para cima. A verticalização da cidade reduziu a vivência comunitária, aquele senso de pertencimento de bairro, onde as escolas de samba eram pontos de encontro e orgulho local. Hoje, a rotina é diferente, a mobilidade urbana é outra, e a cultura precisa se adaptar a essa nova realidade.
Outro fator essencial é a falta de conexão das escolas de samba com a educação básica. Onde estão as disciplinas de arte e cultura que poderiam aproximar os jovens desse universo? O Amazonas é mais do que boi-bumbá, e o Carnaval manauara poderia ser uma grande vitrine de identidade cultural – se houvesse um esforço para inseri-lo desde cedo na formação dos estudantes.
Segurança também é um ponto crucial. O entorno do Sambódromo não oferece uma experiência convidativa para o público, e isso pesa muito na decisão de quem pensa em prestigiar os desfiles.
Mas dizer que a população não se interessa mais pelo Carnaval é um exagero. Ainda há muitas crianças e adolescentes participando dos ensaios, mostrando que o futuro não está perdido. O problema maior talvez seja o próprio manauara, que muitas vezes não valoriza sua cultura, não torce por seus artistas e não vende bem o que tem de bom.
Se quisermos um Carnaval forte, é preciso mais do que lamentar a comparação com os anos 90. É hora de adaptar, inovar e, principalmente, acreditar na força da cultura local.