PAVULAGEM – 01/2020 – Entrevista com Antonio Andrade – Por Chris Reis
A Folha de Parintins entrevista o candidato à presidência da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, Antônio Andrade, que já foi presidente do ‘Boi da Baixa’ e, além do amplo histórico de vitórias sobre o boi Caprichoso e inovações artísticas, teve uma gestão marcada por polêmicas.
No bate-papo com a Folha, não se furtou às perguntas, e afirma que, caso vença a eleição, o Garantido será um boi campeão dentro e fora da arena, com apoio dos melhores nomes da Baixa. Além disso, Andrade chamou os atuais mandatários do boi da baixa de “moles”, sem atitude para resolver as questões do bumbá e os culpou pela perda dos patrimônios. Acompanhe:
Folha de Parintins: Por que o senhor quer ser presidente do Garantido, em uma fase tão difícil onde o boi acumula perdas, inclusive de patrimônio?
Antonio Andrade: Justamente por isso, somente um presidente realmente comprometido com o Garantido pode reverter essa situação terrível, que as últimas gestões nos impuseram. Sou filho de Mestre Venâncio, símbolo eterno da velha guarda do Garantido, grande amigo de Lindolfo, eu inclusive cresci brincando de boi em seu terreiro, carrego dentro de mim a tradição viva do Boi Garantido.
Folha – O senhor já foi presidente no início dos anos 2000. Sua gestão é considerada uma gestão vitoriosa, mas, o encerramento de seu primeiro mandato foi conturbado politicamente falando. O que o senhor pretende fazer de diferente, caso eleito?
AA: Naquele tempo o Garantido era forte e robusto, estávamos anos luz a frente do contrário na apresentação de arena. Fui tetra campeão e o social do Garantido funcionava, ou seja, os frutos eram os melhores já existentes na história do festival. Naquele tempo todo mundo dizia que eu seria candidato a Prefeito, tamanha era a minha popularidade. Fui muito perseguido após o meu mandato. Mas, a história está aí para contar a verdade. Você sabe que ao menor sinal de fumaça, os poderosos logo tentam apagar o possível fogo de qualquer forma. Como sempre digo em minha vida e mantenho a minha posição, não tenho interesses pessoais em cargos políticos partidários, não pretendo me eleger a nenhum cargo na cidade. Caminharei com as melhores pessoas e os melhores quadros possíveis para revolucionar a história do Garantido e do Festival.
Folha: Setores e ações do Garantido se tornaram negativamente previsíveis. Entre eles, a escolha de toadas cujo edital se tornou peça figurativa, sem valor para os compositores. O senhor pretende mudar isso? Como?
AA: Entendo que o Garantido não pode se transformar num grande jogo político a exemplo de poderes em Brasília, onde um favor se paga com outro. As produções e os álbuns lançados na minha época foram considerados os melhores da história do Garantido, o de 2001, inclusive, sempre figura como um dos preferidos da nossa nação. Em 2001, eu fiz o primeiro CD duplo “Amazônia Viva” do Garantido e do Festival; ainda em 2001, lancei o primeiro CD Antológico do Garantido, continuando em 2001. Vejam que ano histórico! Também lançamos o CD ao vivo da arena, um dos CDs ao vivo mais executados das plataformas digitais e o volume 1 e 2 do CD “O Boi da Amazônia” em comemoração ao Centenário de Lindolfo Monteverde. Ou seja, foram cinco álbuns em apenas dois anos, pela qualidade se percebe que o bloco A do Garantido era extremamente valorizado, não há uma só pessoa que diga que tal toada tenha entrado por qualquer tipo de situação anormal, grandes hinos eternos do nosso boi figuram na minha gestão, “Boi de Pano”, “Louco Torcedor”, “Luzes Rubras”, “Não Mate a Vida”, “Tom do Desafio”, “Nossa Senhora de Parintins”, “Nações Extintas”, “Sinhazinha do meu Boi”, isso sem falar das nossas lendas e rituais, como “Cupendiepes”, “Flechas Serpentes”, “Segredo das Máscaras”, “Dinahí”, “Nação Kaxinauá”, “Marupiara”, dentre outros, os mais espetaculares da história do Garantido. Portanto, tenho credibilidade suficiente para dizer que comigo não há conchavos, teremos tudo que há de melhor no nosso boi.
Folha: Falando em previsibilidade, o discurso do Garantido há muito também se tornou passivo de conclusão antecipada, de tão repetitivo. Teremos renovação no setor pensante do boi, caso o senhor seja eleito?
AA: Sempre digo que a minha chapa se chama #UmSóGarantido, acima de tudo temos a grande aliança entre o antigo e o novo. A aliança entre os grandes pensadores do nosso boi e a nova geração que vem surgindo, essa juventude que ama a nossa festa e tem o dever de seguir o nosso trabalho e a promessa de Lindolfo, todos estarão unidos num pensamento conjunto de levar o maior espetáculo já apresentado na arena, anotem o que eu digo, vamos revolucionar o Garantido!
Folha- Nos últimos dois anos o Garantido “importou” contrários para atuar em áreas sensíveis do boi, como composição e produção musical. O senhor, se eleito, pretende manter essa política?
AA: Me perguntam bastante sobre o Adriano Aguiar, minha gente, o Adriano só sai do Garantido se for da vontade dele. Quero os melhores compositores e as melhores toadas. O que houver de melhor garanto que estará conosco. Mas garanto uma outra coisa, quem é Garantido de verdade estará conosco. Nossos compositores e artistas são os melhores desta festa, por isso somos os maiores campeões do festival, vamos valorizar a prata da casa, sempre fomos conhecidos por criar talentos que em seguida eram comprados pelo contrário, com essa diretoria amadora e que não tem compromisso com o nosso boi, tudo se inverteu, passamos a importar a arte de lá, fazendo com que a nossa identidade se tornasse duvidosa.
Folha – O empresário que arrematou parte da Cidade Garantido em leilão, disse, em recente entrevista, que espera que em cinco anos, o boi recupere o patrimônio. Caso eleito o senhor já inicia negociações para reaver esse precioso patrimônio?
AA: Nós vamos primeiro arrumar a casa, resolver as pendências trabalhistas e da justiça comum, encarar as pendências tributárias para criar as condições de reavermos o nosso patrimônio perdido!
Folha: No trato com o contrário, caso eleito, teremos um “Antoninho paz & amor?”
AA: Nunca fui paz e amor com o contrário, sou conhecido justamente por defender os interesses do Garantido com todas as forças, sempre fui um líder de atitude, um presidente que nunca abaixou a cabeça para nenhum tipo de imposição do contrário, nunca aceitei que brincasse com a nossa galera, jamais faria a cara de pastel que os dois comandantes atuais do Garantido fazem, são dois moles! Não tem atitude pra nada, não resolvem nada! Perdem prazo, não defendem nosso boi, perdem o nosso patrimônio construído, há anos, com o suor de tanta gente, inclusive o meu. Contra essas coisas, jamais seria paz e amor, não tenho sangue de barata e tenho certeza que a Baixa do São José também não. Eu sou paz e amor com o meu boi, com a nação vermelha e branca, com o contrário eu quero é o tetra!
Folha: Escola de jurados? Fica? Sai? Ou muda alguma coisa?
AA: Este ano é ano de rediscutir o regulamento do Festival. Penso que temos que aprimorar a Escola de Jurados, transformando-a, numa escola de excelências, composta de Doutores e Pós-Doutores, para melhor julgar o nosso Festival.
Folha: Nos últimos anos, Conselho de Ética e Conselho Fiscal não renderam o que esperam sócios mais exigentes. Isso denota possível fragilidade do estatuto. Se eleito, o senhor pretende propor mudanças estatutárias?
AA: Temos diversas ideias para implantar, incluindo o conselho administrativo do boi. Queremos que o orçamento do boi seja aprovado em assembleia, isso fará com que o presidente tenha menos poder pois sabemos que poder demais é um problema, a prova está aí na nossa frente. Queremos realizar prestação de contas mensais, para acabar com aquela confusão que acontece todo final de ano, também vou criar o Departamento de auditoria interna, quero transformar esse boi e essa gestão na mais transparente da história centenária do Garantido, isso será lembrado por muitos anos como o ponto inicial da real profissionalização interna da nossa festa.
Folha: Antônio Andrade eleito, será o presidente de qual Garantido?
AA: O Garantido é único, é o nosso boi criado por Lindolfo Monteverde, da tradição, das grandes vitórias, da grandiosidade e das mais belas toadas, afinal somos o único conhecido mundialmente e, anotem o que digo, voltaremos a estourar em todo o mundo, vamos recuperar o espaço que perdemos na última década, eu quero um boi internacional, com os olhos do mundo virados para cá, um boi que não seja apenas um discurso, mas que de fato tome atitude nas questões ambientais e indígenas, marco posição firme nesses compromissos. Quero um boi campeão dentro e fora da arena, já chega de amadorismo, quero um boi profissional, com pessoas capacitadas. Levar 6×0 do contrário? Aqui não! Jamais! E quem tá dizendo isso é quem já deu de 6×0 neles! O Garantido de 2021-2023 entrará para a história, pode anotar!