Projeto que catalogou mais de 120 bumbás do AM é lançado em Manaus
Projeto “Hoje tem festa de boi” foi contemplado pelo prêmio Feliciano Lana
Disponibilizar ao público de todo o mundo uma espécie de panorama sobre a cultura popular do Amazonas, com dados sobre cidades e bois-bumbás. Assim pode ser classificado o objetivo do premiado projeto “Hoje tem festa de boi – mapeamento das tradicionais disputas folclóricas bovinas em todo o estado do Amazonas”, com lançamento nesta quarta-feira (30), durante cerimônia no Centro Cultural Palácio Rio Negro, no Centro de Manaus. A pesquisa – que também reúne dados históricos, turísticos e acadêmicos – aponta a existência de mais de 120 bois-bumbás em mais de 20 cidades do Amazonas.
O projeto foi contemplado do Prêmio Feliciano Lana, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
O mapeamento destaca desde os centenários Caprichoso e Garantido até o mais novo dos bumbás: o Boi Grelhação, que terá seu lançamento oficial em Manaus no início de julho, levantando a bandeira LGBTQIA+.
Com a realização desse projeto, brincantes dos bois, turistas que pretendem conhecer a Amazônia, pesquisadores de diversas áreas do conhecimento ou qualquer outra pessoa poderá acessar um site com os resultados de um levantamento que catalogou cidades e bois amazonenses.
Além do mapa com dados turísticos e históricos (que aponta para páginas individuais de cada cidade onde há bumbás), a iniciativa também vai resultar em um livro-reportagem e uma tabela com links para acessar e conhecer publicações literárias, produções audiovisuais, teses, dissertações e pesquisas. Todo o conteúdo pode ser acessado gratuitamente no endereço hojetemfestadeboi.com.br.
“Queremos dar oportunidade para que cidades do interior de todo o estado possam mostrar um pouco da sua cultura. A internet é a forma mais eficiente para isso”, destaca o diretor geral do projeto, o artista plástico Marcelo Ramos.
Já o diretor de arte e conteúdo, Leandro Tapajós, aponta que a iniciativa pode servir como estímulo para outros projetos culturais.
“Entender a dimensão do folclore no Amazonas é importante pelo fato dos bois estarem diretamente ligados com nossa própria identidade cultural. Com o projeto, iniciamos o entendimento desta dimensão. A partir disso, novos projetos e produtos culturais podem surgir individualmente com as cidades e grupos, ou de modo mais macro”, ressalta Tapajós.
Idealização e prêmio – Cientes da importância do folclore para a cultura, Marcelo Pinheiro Ramos (artista plástico, fotógrafo e designer) e Leandro Guerreiro Tapajós (jornalista e produtor cultural) uniram forças e idealizaram o projeto em dezembro de 2020.
As experiências de mais de 15 anos de ambos em atividades de transmissão, cobertura (jornalística ou fotográfica) e de criação (eventos, obras e vídeos), em cidades pelo interior da Amazônia, convergiram e foram somadas ao processo criativo do projeto “Hoje tem festa de boi”.
A junção de pensamentos rendeu frutos, pois a iniciativa foi premiada na categoria Folclore e Cultura Popular, pelo Programa Cultura Criativa – 2020/ Lei Aldir Blanc – Prêmio Feliciano Lana do Governo do Estado do Amazonas, com Apoio do Governo Federal – Ministério Do Turismo – Secretaria Especial Da Cultura, Fundo Nacional de Cultura.
A partir de janeiro de 2021, mesmo com desafios impostos pelo segundo pico da pandemia de Covid-19, o projeto teve início a partir da capital do Amazonas, Manaus.
Uma equipe de profissionais da área acadêmica, jornalística e técnica viabilizou ações para mapear e catalogar as festas folclóricas amazônicas que tem como foco os bois-bumbás.
Mapeamento – Para o levantamento dos dados, foram escolhidas como fontes oficiais as prefeituras, secretarias municipais de cultura e turismo, publicações bibliográficas e produções audiovisuais. Os contatos com as pastas e prefeituras foram feitos por meio de endereços, e-mails e telefones disponibilizados no Portal de Acesso à Informação e Transparência dos Municípios do Estado do Amazonas e Associação Amazonense de Municípios (AAM), além de sites oficiais de prefeituras.
O envio de ofícios, e-mails, mensagens e ligações ocorreram entre janeiro e março de 2021. Também foram consultados dados da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC), Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Entre os bois-bumbás catalogados, há os de arena (que disputam em apresentações organizadas por itens que são julgados), os de terreiro e rua (que brincam nesses locais). Também foram registrados os bois mirins, em que os brincantes são em sua maioria crianças e jovens.
Números – Com base nas respostas enviadas e nas informações pesquisadas, foi possível catalogar a existência de mais de 120 bois-bumbás em mais de 20 cidades do Amazonas. São elas: Amaturá, Atalaia do Norte, Autazes, Barreirinha, Benjamin Constant, Boa Vista do Ramos, Borba, Careiro, Coari, Fonte Boa, Itacoatiara, Itapiranga, Japurá, Lábrea, Manaus, Maués, Manicoré, Nhamundá, Nova Olinda do Norte, Parintins, Pauini, Silves e Urucurituba.
O levantamento aponta que a cidade do Amazonas com maior número de bois-bumbás registrados é a capital Manaus com 27 bumbás, contabilizando os em atividade e extintos. Parintins também é outro município amazonense que se destaca pelo número de bois-bumbás. Ao todo, são 14 bumbás em atividade na ilha.
“Esse levantamento pode possibilitar que se tenha um panorama da realidade e dimensão do folclore no estado. A partir disso, será possível que nós – ou qualquer outro interessado – desenvolva produtos culturais, pesquisas e fomente a divulgação dos bois e cidades. É possível aprofundar conteúdos de modo específico ou mais amplo. A ideia é que o projeto tenha”, ressalta Tapajós.
Livro – O livro-reportagem, que é uma das produções resultantes do “Hoje tem festa de boi”, está em período de produção e deve ser lançado ao público ainda em 2021. A versão digital será disponibilizada gratuitamente também no site. Cinco jornalistas amazonenses trabalham na obra. São eles: Wilsa Freire, Leandro Tapajós, Laynna Feitoza, Marcos Dantas e Camila Henriques.
Artistas, compositores, brincantes, jornalistas e pesquisadores estão entre os entrevistados para criação das reportagens do livro que irá abordar vários aspectos atuais ligados ao movimento do boi-bumbá nas cidades do estado do Amazonas. Estão entre os assuntos: reflexos da pandemia no folclore, abordagens sobre gênero e religiosidade nos bois, o mercado musical, os bois no ambiente urbano, entre outros.
Fontes bibliográficas – Uma vasta listagem com nomes de obras, textos e produções que podem fornecer subsídios para pesquisas e aquisição de conhecimentos sobre os bois-bumbás do folclore amazônico pode ser acessada no site do projeto.
“Não tenho dúvidas de que esse banco de dados, com referências de livros, teses, dissertações, artigos e outros, vai ajudar muito os pesquisadores que têm dificuldade de encontrar esse tipo de material tão importante para quem definiu o folclore como objeto de estudo”, disse a integrante da equipe de pesquisa do projeto, a parintinense Joise Simas, que cursa doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Fotos: Divulgação